Em carta enviada em fevereiro a Bolsonaro, Biden cobrou compromisso com metas ambientais

18/03/2021 15h12


Fonte O Globo

Imagem: Jim Watson/AFPO presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acena ao chegar na Casa Branca.(Imagem:Jim Watson/AFP)O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acena ao chegar na Casa Branca.

Em carta enviada ao presidente Jair Bolsonaro em 26 de fevereiro, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse esperar um compromisso maior do governo brasileiro com a proteção ao meio ambiente no período que antecede a cúpula sobre o clima que o americano está organizando para 22 de abril, Dia da Terra.

Trechos da carta foram divulgados nesta quinta cedo pelo Planalto, mas a parte da cobrança não constava do comunicado da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência. A carta foi uma resposta à mensagem enviada por Bolsonaro no dia da posse do democrata, 20 de janeiro.

No texto, Biden diz que seu governo está "atuando rapidamente", tanto internamente como com parceiros internacionais, para combater a pandemia da Covid-19 e para "responder com urgência à ameaça global representada pela mudança climática". O presidente americano disse esperar que os Estados Unidos e o Brasil possam combater esses problemas juntos, tanto de forma bilateral como em fóruns mundiais.

"Espero ver compromissos do seu governo em aumentar a ambição sobre a questão climática antes da cúpula de líderes pelo clima que eu vou organizar em 22 de abril, enquanto trabalhamos para proteger nossos recursos naturais e tirar milhões da pobreza por meios sustentáveis", escreveu Biden.

O recebimento da carta, com parte do seu conteúdo, foi divulgado mais cedo pela Secom. O GLOBO teve acesso depois à integra do documento. Na sua nota, a Secom disse apenas que Biden defendeu parcerias na questão do clima e no combate à pandemia.

Bolsonaro foi convidado para a cúpula de 22 de abril, mas o governo brasileiro ainda não confirmou se ele vai.

A divulgação da carta pelo Palácio do Planalto ocorreu no dia seguinte à veiculação de trechos de uma entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à rede de TV americana CNN. Nos trechos, Lula pede que Biden repasse a outros países as 30 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca que estão estocadas nos EUA sem uso, e também que convoque uma cúpula do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, para discutir uma distribuição mais equitativa dos imunizantes no mundo.

Lula diz ainda que o democrata é um "sopro de democracia", em contraste com seu antecessor, Donald Trump, de quem Bolsonaro era forte aliado.

Na carta, Biden afirma ainda que Brasil e Estados Unidos compartilham "objetivos comuns e desafios". Ele diz que a História aproximou os dois países, citando a luta pela independência, a defesa da democracia e da liberdade religiosa, a "rejeição afinal da escravidão" e "o longo caminho para abraçar o caráter diverso de nossas sociedades".

Ele termina o texto dizendo esperar trabalhar de forma próxima com o Brasil "para tornar a região e o mundo lugares melhores" e afirmando que é o início de um "novo capítulo" da relação bilateral dos dois países.

Biden e Bolsonaro ainda não se falaram por telefone desde a posse do democrata — na América Latina, o ocupante da Casa Branca já conversou com o argentino Alberto Fernández, o chileno Sebastián Piñera e o costa-riquenho Carlos Alvarado, além de ter feito uma cúpula virtual com Andrés Manuel López Obrador, do México, país com o qual os EUA mantém, ao lado do Canadá, um acordo de livre comércio.

Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais de expressão a reconhecer a vitória de Biden nas eleições do ano passado e afirmou mais de uma vez, sem apresentar provas, que houve fraude na disputa. Entretanto, quando não havia mais chances do resultado ser revertido, o brasileiro passou a fazer gestos de aproximação.

No dia da posse de Biden, em janeiro, Bolsonaro anunciou ter enviado uma carta ao americano na qual expôs sua "visão de um excelente futuro para a parceria Brasil-EUA".

Apesar do apoio do brasileiro à reeleição de Trump e das críticas de deputados democratas às políticas de Bolsonaro na área de meio ambiente e direitos humanos, o governo Biden tem indicado que não vai buscar o confronto com o Planalto, pelo menos neste primeiro momento.

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