Em esforço para negar desgaste, Bolsonaro chama Moro de patrimônio nacional

30/08/2019 11h18


Fonte Folha Press

Imagem: DivulgaçãoJair Bolsonaro e Sergio Moro(Imagem:Divulgação)

Na tentativa de negar que tenha havido um desgaste em sua relação com Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro fez questão na última quinta-feira (29) de elogiar publicamente o ministro da Justiça.

No lançamento do projeto "Em Frente, Brasil", pacote de combate à criminalidade violenta elaborado pelo ministro, o presidente chamou Moro de "patrimônio nacional", citou o nome dele cinco vezes e o agradeceu por ter aceitado fazer parte de sua gestão.

"Obrigado, Sergio Moro. Vossa Senhoria abriu mão de 22 anos de magistratura para não entrar em uma aventura, mas para entrar na certeza de que todos nós juntos podemos, sim, fazer melhor pela nossa pátria", disse. Segundo Bolsonaro, a iniciativa do ministro "é muito bem-vinda" e "vai dar certo".

Apesar dos elogios a Moro, o evento reuniu um público menor do que o esperado. Mesmo após o Palácio do Planalto ter escalado quatro governadores (Pernambuco, Goiás, Paraná e Pará) e 12 ministros, seis fileiras de cadeiras foram retiradas antes do começo da cerimônia para que não ficassem vazias.

No esforço de prestigiar Moro, o presidente desceu a rampa interna do Palácio do Planalto ao seu lado e, em um aceno público, fez questão de abraçá-lo durante o trajeto, sendo aplaudidos pela plateia de convidados, integrada por deputados federais do PSL.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, também afagou Moro em discurso e disse que ele é o "melhor ministro da Justiça e da Segurança Pública da história e que o Brasil terá nos próximos anos".

Moro retribuiu os elogios de Bolsonaro, disse que a iniciativa foi elaborada seguindo as orientações do presidente e afirmou que a política de seu governo para a segurança pública tem sido exitosa.

"É importante destacar, e isso não tem tido a necessária exposição na imprensa, que a criminalidade vem reduzindo no governo Bolsonaro significativamente. Não me lembro de outro período histórico em que tivesse ocorrido uma redução de 20% nos homicídios nos quatro primeiros meses", afirmou.

Moro destacou ainda que tem havido no país um esforço do governo para a "redução substancial da perda de vidas" com a violência. "É um objetivo que vale a pena", disse. "O que vimos no passado era a União distante da criminalidade violenta. O governo federal era mais atuante em outro tipo de criminalidade. E a União atuava de uma maneira reativa."

O projeto-piloto "Em Frente, Brasil" tem como objetivo enfrentar a criminalidade violenta no país em ações conjuntas com os governos federal, estaduais e municipais. Ele será inicialmente implementado em cinco cidades: Ananindeua (PA), Paulista (PE), Cariacica (ES), São José dos Pinhais (PR) e Goiânia (GO).

Para a fase inicial, o plano têm custo de R$ 20 milhões, além de gasto com a mobilização de 500 policiais da Força Nacional de Segurança e de outros recursos que serão discutidos para aplicação a partir de 2020.

O lançamento da iniciativa, preparada há meses por Moro, ocorre no momento em que o ministro passa por um processo de esvaziamento no cargo, com interferências diretas do presidente.

Foco dos vazamentos de mensagens privadas que colocaram em dúvida sua imparcialidade como juiz da Lava Jato, Moro também enfrenta resistência do Congresso em aprovar seu pacote anticrime.

Além da iniciativa desta quinta-feira (29) enfrentar percalços políticos, ela larga com um entrave que ameaça sua expansão: a escassez de recursos nos cofres federais.

Para a fase inicial de teste, que envolve uma cidade de cada região do país, o plano têm custo de R$ 20 milhões, além de gasto com a mobilização de 500 policiais da Força Nacional de Segurança e de outros recursos que serão discutidos para aplicação a partir de 2020.

Moro, inclusive, tenta evitar que sua pasta perca recursos na proposta de Orçamento para 2020 que o governo tem que enviar ao Congresso ainda nesta semana.

Caso o plano dê certo, ele representará um cartão de visitas para o ministro, cujo nome é cogitado para concorrer contra Bolsonaro em 2022, se eles romperem.


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