Francisca Trindade: um legado de militância polÃtica
08/03/2016 13h43Fonte Cidadeverde.com
O Dia Internacional da Mulher é associado a fatos que simbolizaram a luta por ideais, direitos e conquistas em diversas partes do mundo. No Piauí essa batalha se confunde com a história de vida de Francisca Trindade. Mãe, mulher e negra, ela optou por seguir o caminho da política para mostrar que era possível lutar por melhores condições de trabalho, salário e dignidade.Trindade nasceu no dia 26 de março de 1966, justamente o mês das mulheres. De família humilde, estudou em escola pública. Era a caçula de quatro irmãos. Começou a sua trajetória em movimentos sociais na zona Norte de Teresina, mais precisamente no bairro Água Mineral, onde morava.
"Estudou em escola pública, depois foi para a Igreja, através da Pastoral da Juventude, daí começou aquela indignação. Ela começou a ver a diferença entre as classes sociais e passou a se perguntar o motivo de que no bairro X tem calçamento e no dela não tinha. Por que alguns bairros tinham casas bonitas e no dela não tinha, bem como água, luz. Daí ela se envolveu no movimento estudantil e começou a lutar. Ela era muito inteligente", relata saudosa a irmã mais velha, Marli Trindade.
Segundo ela, a entrada na política foi consequência de seu engajamento no movimento estudantil. "Minha irmã gostava de dizer que nunca pensou em ser uma pessoa da política. A Trindade chegou aonde chegou por mérito dela. Por ser mulher quebrou várias barreiras. Tinha a questão do preconceito. O povo dizia que lugar de mulher era na cozinha e cuidando dos filhos. Tudo isso ela conseguiu transformar. Ela era uma muito determinada", conta Marli.
Foi eleita primeira suplente de vereador em Teresina em 1992, pelo PT, ocupando de fato a cadeira dois anos depois com a eleição para deputado estadual do então vereador Wellington Dias. Sua candidatura foi lançada dentro de um hospital. Trindade passou cinco meses internada após sofrer um acidente de moto. "A candidatura dela de vereadora foi lançada em cima do leito de um hospital. Uma das amigas dela chegou e disse que ia lançar ela. Ela passou 5 meses no hospital sem poder se mover. A Trindade fazia comício em cima de caminhão. Eles colocavam uma poltrona pra ela sentar e fazer o comício", relembra, ressaltando a determinação da irmã.
"Quando queria uma coisa ia buscar e não esperava nada cair. Foi quando começou na política. Ela sempre procurou defender as pessoas mais humildes. Tinha tudo para não chegar aonde chegou. Mulher, negra e pobre, chegou aonde chegou sem comprar ninguém. Jamais corrompeu alguém ou se corrompeu. A história da Trindade é um exemplo a ser seguido", afirma Marli.
Após exercer o mandato de vereadora de Teresina, foi questão de tempo a chegada de Francisca Trindade à Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi). Seu mandato no legislativo estadual teve início em 1998. Quatro anos mais tarde bateu recorde de votação (165.190) e elegeu-se deputada federal. "Hoje as pessoas estão desmotivadas e principalmente a classe menos favorecida. Acho que as pessoas deviam se espelhar na história de vida da Trindade. É uma história de orgulho. O que as pessoas acham que é impossível, na verdade é possível", frisa.
Imagem: Cidadeverde.comFrancisca Trindade
Fundação resgata vida da parlamentar
Mãe de Ian (14 anos) e Camila (15 anos), parte da história de vida de Francisca Trindade está preservada na fundação que leva seu nome. Localizada no bairro Mocambinho, a ong realiza ainda trabalhos sociais e atende crianças e adultos carentes.
"A Fundação foi criada pelos amigos. Eles acharam que não tinham o direito de deixar a história da Trindade morrer. Daí surgiu essa ideia. É uma maneira de manter via sua história de vida e suas memórias. No momento estamos com dificuldade, mas estamos firmes e fortes. Temos uma escola de balé com 250 crianças. Temos cursos de informática básica para capacitar pessoas de baixa renda para o trabalho. Nossa prioridade são pessoas carentes beneficiadas por programas sociais do governo. A gente busca dar oportunidade a essas pessoas", diz Marli.
O próximo passo, segundo a irmã, é documentar a trajetória de Trindade em um livro. Mas o sonho ainda está longe de ser realizado por questões financeiras. "Temos o projeto de lançar um livro contando a história dela. Como a gente não tem recursos, por enquanto estamos só sonhando. É um meio de deixar isso registrado para as futuras gerações. É uma história muito bonita. É um exemplo principalmente para os políticos", afirmou.
Francisca Trindade morreu no dia 26 de julho de 2003 aos 37 anos, vítima de um aneurisma cerebral. Desmaiou durante um evento que participava. Socorrida, chegou a ser transferida para São Paulo, onde veio a falecer. Se estivesse viva, Marli acredita que a irmã teria chegado ainda muito mais longe.
"Isso não sou eu quem fala. As pessoas falam que hoje, se estivesse viva, ela seria prefeita ou governadora. Quem acompanhou a trajetória dela diz isso. As pessoas votavam nela por que confiavam", finalizou.
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