Melhores livros de política em 2019 foram sobre como nos metemos nesse buraco

31/12/2019 09h25


Fonte Folha de S. Paulo

Começando com algo que dá alguma esperança, Djamila Ribeiro escreveu “Pequeno Manual Antirracista”, um manifesto simples e direto que tem cara de que vai durar. Mas grande parte dos melhores livros de política de 2019, aqui e no exterior, foi sobre como nos metemos nesse buraco.

Também foi um bom ano para grandes análises de longo prazo sobre capitalismo, desenvolvimento e desigualdade. No ano passado, os grandes lançamentos foram sobre a crise das democracias.

Como as democracias ainda não se recuperaram, 2019 viu o lançamento de mais bons trabalhos sobre o problema. De longe, o melhor foi “Crisis of Democracy” (crise da democracia), de Adam Przeworski, o maior comparativista da ciência política atual. Outro destaque foi “Os Engenheiros do Caos”, de Giuliano da Empoli, um livro muito bem escrito sobre a ascensão do populismo de algoritmo e a nova direita, inclusive a brasileira.

"Amanhã Vai Ser Maior", da antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, oferece uma interpretação inteligente da ascensão do bolsonarismo, propõe estratégias para a esquerda, e parte de conversas muito ricas com caminhoneiros em greve e ex-participantes de “rolezinhos” que se tornaram bolsonaristas. Também do ponto de vista da esquerda, "Sobre Lutas e Lágrimas: Uma Biografia de 2018”, do jornalista Mário Magalhães, é uma bela crônica de um ano feio.

Os desdobramentos da Lava Jato renderam bons livros. A biografia não-autorizada de Eduardo Cunha, "Deus Tenha Misericórdia dessa Nação", de Aloy Jupiara e Chico Otavio, mostra nas mãos de quem o Brasil esteve em 2015. “Why Not”, de Raquel Landim, conta a história assustadora do grupo JBS (o do Joesley, amigo do Temer) e mostra o que é o capitalismo patrimonialista brasileiro.

“A Elite na Cadeia”, de Wálter Nunes, conta o cotidiano e as intrigas entre empreiteiros presos na Lava Jato e já valeria só pela descrição do literal “jogo do prisioneiro” de quem delataria primeiro.

Atores institucionais importantes também renderam bons livros. “Os Onze”, de Felipe Recondo e Luiz Weber, deve continuar sendo o melhor livro sobre o STF por algum tempo. “O Reino”, de Gilberto Nascimento, conta a história da Igreja Universal do Reino de Deus, com ênfase em sua relação com a política e bons bastidores de sua política interna.

Na linha “grandes interpretações”, “The Narrow Corridor” (o corredor estreito), de Daron Acemoglu e James Robinson, propõe que os países constroem as instituições certas para o desenvolvimento quando sociedade civil e Estado se mantêm em uma corrida uma contra o outro em que ninguém nunca ganha.

?“Capital et Ideologie”, de Thomas Piketty, procura preencher duas lacunas deixadas pelo best-seller improvável “Capital no Século XXI”: a análise de países periféricos (inclusive, rápida e algo insatisfatoriamente, o Brasil) e a história política da desigualdade, com destaque para a mudança de perfil eleitoral da esquerda europeia (de partidos dos trabalhadores a partidos dos mais diplomados).
Mas o melhor dos três é “Capitalism, Alone”, de Branko Milanovic. Oferece um panorama da desigualdade no capitalismo ocidental e uma interpretação original sobre o lugar dos regimes comunistas na história do capitalismo como matrizes do capitalismo político de tipo chinês, que tem suas próprias fontes de instabilidade. É o livro do ano.

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