Pressionado por ações ambientais, Bolsonaro antecipa para 2050 meta de zerar gases poluentes

22/04/2021 14h52


Fonte O Globo

Imagem: Reprodução/InstagramO ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente Jair Bolsonaro na Cúpula dos Líderes sobre o Clima.(Imagem:Reprodução/Instagram)O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente Jair Bolsonaro na Cúpula dos Líderes sobre o Clima.

O presidente Jair Bolsonaro discursou na manhã desta quinta-feira na Cúpula de Líderes sobre o Clima, convocada pelo presidente americano, Joe Biden. Em sua fala, Bolsonaro ignorou os números recordes de desmatamento na região amazônica, adotou um tom conciliador, pediu recursos internacionais e antecipou para 2050 o prazo para o Brasil zerar as emissões de gases do efeito estufa. A meta anterior, definida no ano passado, era 2060.

— Coincidimos, senhor presidente (Biden), com o seu chamado ao estabelecimento de compromissos ambiciosos. Nesse sentido, determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em dez anos a sinalização anterior — discursou o presidente brasileiro.

Bolsonaro também prometeu dobrar o orçamento de órgãos ambientais destinado a ações de fiscalização, como parte do esforço para acabar com desmatamento ilegal até 2030 — objetivo assumido pelo Brasil em 2015, no Acordo de Paris.

— Há que se reconhecer que será uma tarefa complexa (zerar desmatamento). Medidas de comando e controle são parte da resposta. Apesar das limitações orçamentárias do governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais do governo, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização.

No entanto, seu governo vinha reduzindo os gastos na área. A previsão inicial de orçamento para o Ministério do Meio Ambiente em 2021 era a menor desde o início do século, incluindo cortes de 29,1% nos recursos do Ibama e de 40,4% nos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Entre os 26 líderes convidados a falar, Bolsonaro foi o 19º a discursar. Biden acompanhou os primeiros 15 discursos, mas depois se ausentou, e não estava presente no momento da fala do brasileiro. Acompanharam a declaração o secretário de Estado, Antony Blinken, e o enviado especial para o clima da Casa Branca, John Kerry.

Sem adotar o tom de enfrentamento usado em participações na Assembleia Geral das Nações Unidas, quando rebateu críticas à política ambiental brasileira, o Bolsonaro afirmou que o Brasil está na "vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global" e pediu uma "justa remuneração pelos serviços ambientais" realizados, mas sem falar em valores.

— É preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação. Estamos, reitero, abertos à cooperação internacional — disse o brasileiro.

Bolsonaro fez uma defesa da política ambiental brasileira, dizendo que a principal causa do aquecimento global é a queima de combustíveis fósseis e que o Brasil tem "uma das matrizes energéticas mais limpas" do mundo, além de ser pioneiro em biocombustíveis.

— Ao discutirmos mudanças no clima, não podemos esquecer a causa maior do problema: a queima de combustíveis fósseis ao longo dos últimos dois séculos — disse, acrescentando: — Contamos com uma das matrizes energéticas mais limpas, com renovados investimentos em energia solar, eólica, hidráulica e biomassa.

Bolsonaro ainda disse que a Amazônia tem os piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do país, apesar de ser a região mais rica em recursos naturais, e disse que é preciso solucionar esse "paradoxo amazônico".

Apesar da transmissão só enquadrar o presidente, Bolsonaro estava acompanhado de diversos ministros, com Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Carlos França (Relações Exteriores) diretamente ao seu lado.

Salles é alvo de críticas de diversos setores pela política adotada na pasta, sob seu comando desde o início do governo Bolsonaro em 2019. Naquele ano e em 2020, o desmatamento da Amazônia atingiu os maiores números desde 2008, chegando a 10.129km² e 11.088km², respectivamente, segundo o sistema de monitoramento oficial Prodes. Além disso, estima-se que no Ibama haja um déficit de cerca de 500 fiscais, enfraquecendo as ações de combate ao desmatamento ilegal.

Desafio diplomático

A cúpula é o maior desafio diplomático já enfrentado por Bolsonaro porque põe em xeque a relação com os Estados Unidos após a saída do republicano Donald Trump da Casa Branca e expõe a falta de compromisso do seu governo com as metas que o próprio Brasil estabeleceu cumprir como signatário do Acordo de Paris sobre o clima em 2015.

Na cúpula, Biden busca estabelecer a liderança americana no tema climático após o recuo drástico promovido por Trump, que tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Ele cobra que os países participantes se disponham a apresentar metas mais ambiciosas para a redução da emissão de gases de efeito estufa, que causam o aquecimento global, até a Cúpula do Clima da ONU, a COP-26, que ocorrerá em Glasgow, na Escócia, em novembro deste ano.

Na semana passada, Bolsonaro enviou uma carta a Biden reafirmando o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030. O brasileiro, no entanto, destacou que a meta só poderá ser alcançada com o investimento de “recursos vultosos” e pediu o apoio do governo americano.