Temer cede a Bolsonaro e recua de indicações para Caixa e agências

25/10/2018 10h49


Fonte Folha Press

Imagem: DivulgaçãoClique para ampliarTemer cede a Bolsonaro e recua de indicações para Caixa e agências.(Imagem:Divulgação)

Emissários de Jair Bolsonaro (PSL) pressionaram o presidente Michel Temer e ele decidiu congelar as nomeações de quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal. O candidato quer ele próprio chancelar, se eleito, os nomes para postos-chave do governo que estão em aberto.

Temer também recuou de nomeações para cargos de direção em agências reguladoras, após tratativas com representantes de Bolsonaro. O gesto de Temer para o presidenciável mira compensações no futuro, como a permanência de aliados em alguns cargos e a manutenção de programas da atual gestão.

Segundo integrantes do governo e da campanha de Bolsonaro ouvidos pela reportagem, o presidente pretendia rever os nomes selecionados pela Caixa e distribuir cargos de comando nas agências reguladoras para ministros. No entanto, Bolsonaro fez chegar a ele sua insatisfação.

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB), disse à reportagem que o governo avaliou que, a dois meses do fim do mandato de Temer, não é momento de fazer alterações em cargos permanentes.

"Ao fim de governo, é ideal que não tenha esse tipo de modificação. Não é hora de fazer mudança. Que o próximo presidente faça essas alterações"
, afirmou.

Ele negou, contudo, que tenha conversado com aliados de Bolsonaro. A decisão de Temer afeta as novas regras de gestão da Caixa, criadas com o objetivo de blindar o banco de aparelhamento político e esquemas de corrupção. Após desvios apurados nas Operações Sépsis, Cui Bono? e Greenfield, a instituição aprovou novo estatuto.

As regras preveem a seleção de dirigentes por meio de recrutamento no mercado, seguindo critérios de competência e sem a interferência de partidos. Os ocupantes dos cargos têm de se enquadrar no perfil da Lei da Ficha Limpa.

Pela regra, cabe ao Conselho de Administração da Caixa, e não ao presidente da República, decidir quem exercerá as vice-presidências, com base nos resultados do concurso. Porém, a prerrogativa de nomeá-los é do presidente.

A Caixa enviou neste mês à Presidência a lista dos executivos selecionados para as vices de Habitação, Governo, Corporativa e de Fundos de Governo e Loterias.

As três últimas estão sob o comando de interinos desde o início do ano, quando Temer teve de afastar os titulares por causa de suspeitas de envolvimento em corrupção. A medida foi tomada após pedidos do MPF (Ministério Público Federal) e do Banco Central.

Coube a Marun informar à Caixa que as nomeações não vão sair neste governo. O aviso foi dado diretamente ao ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a quem o banco está subordinado.

A decisão de suspender as nomeações frustrou integrantes da equipe econômica, que almejam pôr em prática as novas regras de governança da Caixa.

Agora, teme-se que, após o oneroso processo de recrutamento, que envolveu a escolha de uma empresa caça-talentos, os executivos selecionados aceitem ofertas de bancos concorrentes.

À reportagem Marun reconheceu que há pleitos de mudança, mas que os atuais vice-presidentes estão fazendo trabalhos satisfatórios e que substituições não são uma necessidade tão urgente.

Após a Folha de S.Paulo publicar em seu site reportagem sobre a decisão de Temer, a Secretaria de Comunicação da Presidência negou nesta quarta (24) conversas com emissários de Bolsonaro e pressão para congelar as nomeações de postos-chave na Caixa.

Em nota, o órgão sustentou que o processo de seleção "será mantido e concluído, administrativamente, no tempo correto e sem interferências externas". Porém, não precisou quando os cargos serão preenchidos.

O comunicado não menciona as agências reguladoras. Temer indicou recentemente o novo presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e diretores da ANS (Agência Nacional de Saúde), da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e da nova agência de mineração, a ANM. O plano dele era nomear indicados de seu partido, ao todo, para 16 postos de comando em agências.

Tópicos: presidente, governo, banco