Comandante diz que meta é tornar Teresina a capital mais segura do país

01/03/2016 07h21


Fonte G1 PI

Imagem: Pedro Santiago/G1Coronel Wagner Torres, comandante do policiamento da capital.(Imagem:Pedro Santiago/G1)Coronel Wagner Torres, comandante do policiamento da capital.

Nesta segunda-feira (29) completaram dez dias desde que o tenente-coronel Wagner Torres assumiu o Comando de Policiamento da Capital. A data foi antecedida por um fim de semana violento em Teresina, em que pelo menos cinco pessoas foram assassinadas. Aliás, diminuir o número de homicídios é o principal objetivo do oficial que está há 29 anos na Polícia Militar.

Uma tarefa complicada, visto que Teresina foi apontada como a 30ª cidade mais violenta do mundo, segundo uma pesquisa de uma ONG mexicana divulgada em janeiro. Em 2015, a capital piauiense teve um índice de homicídios de 42,64 para cada 100 mil habitantes. Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma taxa acima de 10 significa que existe epidemia de assassinatos.

Confrontado pelos dados, o coronel demonstrou tranquilidade, alegou ter enfrentado situação parecida em Picos, onde era comandante, e apresentou planos e projetos que, segundo ele, podem devolver para Teresina um ambiente de segurança. “Quero no próximo ano, quando essa ONG mexicana for divulgar o seu ranking, que Teresina seja a capital mais segura do país”, disse.

Em entrevista para o G1, o coronel Wagner Torres falou sobre como planeja trabalhar, emprego do policiamento utilizando técnicas científicas, maioridade penal, tráfico de drogas e fama de ser um policial linha dura. “Nunca disse isso. Agora, eu não fecho os olhos para nenhum tipo de ilegalidade”.

G1 - O senhor assumiu o comando do policiamento da capital pouco tempo após uma ONG mexicana ter apontado Teresina como a 30ª cidade mais violenta do mundo. Além disso, a sensação de insegurança dos moradores atualmente é generalizada. Como diminuir uma taxa de homicídio de mais de 42 assassinatos por 100 mil habitantes rapidamente? Isso é possível?

Quando cheguei em Picos o problema era semelhante ao de Teresina. Cheguei em 4 de janeiro de 2012. Em 2010 mataram 18, em 2011 mataram 19. Qual era nossa meta? Diminuir o índice de criminalidade na modalidade homicídio. Para isso, procurei saber quais as causas de tantas mortes e as causas de Picos não são diferentes de Teresina: é o tráfico de drogas. Isso está atrelado a roubos, furtos e assaltos. Aqui na capital, acredito que de 70% a 80% desses crimes estejam ligados ao tráfico de drogas, segundo o que me apontaram os relatórios tanto da Polícia Militar quanto da Polícia Civil.

Aqui tem outro aspecto que contribui para o grande número de homicídios que é a disputa entre as gangs. Isso é pontual, a gente sabe onde elas estão localizadas. Então, vamos precisa identificar os líderes, prender e entregar para a autoridade judiciária.

Lá em Picos nós conseguimos identificar os cabeças e prendê-los e todas as vezes que eles ficavam presos, diminuía o número de homicídios.

Outro item que temos que bater muito forte é a abordagem, blitzs e barreiras no sentido de apreender armas de fogo. Vou sempre falar de Picos porque é uma referência para mim. Nos anos em que fiquei naquela cidade, a gente conseguiu diminuir os homicídios de 19 para uma média de 11. Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma média tolerável a para esse tipo de crime é 10 a cada 100 mil habitantes. É esse o nosso objetivo aqui em Teresina, diminuir em 50% o número de homicídios.

G1 - Em quanto tempo?
Não temos como estipular esse tempo, mas quero no próximo ano, quando essa ONG mexicana for divulgar o seu ranking, que Teresina seja a capital mais segura do País.

G1 – Como diminuir os índices de criminalidade em Teresina
Já começamos as operações. Não sou um policial que gosta de gabinete, as pessoas vão me ver nas operações comandando e acompanhando. Já estamos nas áreas com os maiores índices de criminalidade atuando e começamos a Operação Paredão. Vamos acabar com a perturbação do sossego alheio aqui em Teresina. Isso será feito de forma legal porque isso é uma contravenção penal que está tipificada no artigo 42 (do Código Penal).

Fizemos uma operação na Praça da Bandeira contra a receptação de celulares porque esses aparelhos são a moeda de troca com os traficantes, então, nós temos que acabar com isso. Apreendemos centenas de celulares e quase 30 pessoas foram presas.

O que quero dizer é que a PM tem que estar nas ruas. Eu só me sinto seguro nas minhas horas de lazer quando tem um policial perto. Então temos que nos fazer presente em rondas, blitzs e abordagens.

Vamos melhorar o cartão programa, que estipula pontos estratégicos e permanentes onde as viaturas sempre estarão durante as 24 horas. Com isso, ela vira uma referência para a população, que quando tiver qualquer problema pode recorrer diretamente a ela. Além disso, será feito um rodízio entre essas viaturas que ficarão paradas. Assim, uma vai de um ponto para o outro em determinado espaço de tempo. Nesse deslocamento já vai sendo feito uma ronda.

Outra idéia é a de criarmos uma batalhão de moto patrulhamento que entendo como a melhor modalidade, a mais eficiente, eficaz modalidade de policiamento. É o tipo de coisa que não onera os cofres do estado, o gasto é mínimo com manutenção e combustível e a resposta para a segurança é o melhor.

Por exemplo, quando cheguei em Picos, atendíamos uma ocorrência com 15,18, 20 minutos, isso com carro. Quando criei o grupo tático de moto patrulhamento, nós reduzimos esse tempo para 3 a 7 minutos. Você liga e de repente chegam três homens bem armados e preparados para atender a ocorrência. Vamos entregar esse projeto pata o comandante Carlos Augusto nesta semana.

G1 - Grande parte dos homicídios se dá nas periferias da cidade, em bairros e vilas que convivem com o tráfico de drogas. Muitos jovens fazem parte desse contigente que atua com a associação para o tráfico. O senhor acha que apenas predendo os cabeças, essas pessoas serão desmobilizadas do crime?
O delegado geral da Polícia Civil (Riedel Batista) me apresentou um mapeamento dos crimes em Teresina mostrando onde ficam os maiores índices de roubo, homicídios e furto, assim como roubo e furto de veículos. O major Júnior, chefe do setor de telamática, me apresentou também um mapeamento feito pela PM, e ele confirmou com os dados da Polícia Civil.

É em cima desses dados que vamos empregar o nosso policiamento, vamos empregar de forma técnica, científica. Vamos intensificar o policiamento naqueles locais em que os índices de criminalidade estão elevados.

Com relação aos menores de idade. Na minha opinião, essa polêmica (redução da maioridade penal) não é interessante porque hoje já temos adolescentes cometendo crime com 17, 15, 13 anos. Vai baixar até que idade?

Eu proporia outra coisa. No Brasil, a pena máxima para o homicídio é de 30 anos. O menor que tivesse 15 anos, cometesse um assassinato e fosse condenado a 20 anos de prisão ficaria três anos nas casas de educação e cumpriria o restante da pena nos presídios. Aí sim, daríamos uma freada nessa onda de homicídios cometidos por menores.

G1 - Então, não haveria redução da maioridade penal de 18 para 16, mas o adolescente que cometesse um homicídio seria penalizado como um adulto?
Sim, mas ele iria cumprir a pena em locais diferentes, primeiramente nos centros de educação e depois nos presídios.

G1 - E não haveria um limite mínimo para isso?
Com relação ao limite mínimo, acho que poderíamos discutir mais sobre isso.

G1 – Voltando à pergunta original, o senhor acha que a prisão dos cabeças do tráfico desmobilizaria os jovens envolvidos com o crime?

A maioria desses criminosos enxergaram e entenderam que eles podem usar os menores como um blindagem, como um suporte para auxiliar na prática do crime. Por conta da vulnerabilidade do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), os adultos estão usando os menores. Então, acho que prendendo os cabeças, consequentemente, nós vamos desarticular os adolescentes.

G1 - Coronel, como tornar a PM mais cidadã? Atualmente a população que mais sofre com a violência são os moradores da periferia. A situação é tão grave que recentemente um jovem foi morto dentro de um velório de um rapaz que também tinha sido assassinado.
A questão é que matar banalizou. Isso é motivado pelo sentimento da impunidade. O bandido mata e tem o sente que não vai ser punido, por conta da fragilidade da lei. Eu sempre digo que nossos legisladores precisam urgentemente fazer uma reforma no nosso código penal, que é de 1940. Então, a pessoa que comete um crime tem que ficar consciente de que vai se punido por aquilo e que vai cumprir aquela penalidade.

G1 - Com relação as comunidade da periferia que são tão atingidas pela criminalidade. Muitos moradores já relataram temer a Polícia, afirmando que muitas vezes a PM não consegue diferenciar quem é e quem não é bandido. Como trazer aquela comunidade para o lado da polícia?
A gente tem que ver se tem fundamento essa sua afirmação. É a primeira vez que está me chegando esse assunto, porque, até onde tenho conhecimento, os nossos policiais militares tratam todos com isenção procurando cumprir as suas obrigações dentro da legalidade. Não tenho informações da PM tratando as pessoas de forma diferente.

Isso é abominável (tratar inocentes como bandidos). Quando recebemos alguma denúncia por desvio de conduta por parte de qualquer policial nosso, imediatamente ela é encaminhada para a Corregedoria para que seja feita a investigação e sejam tomadas todas as providências.

G1 - O estado do Piauí e é o que menos investe em segurança em todo o Brasil, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, além de ser público que a PM tem um enorme déficit de homens. Como contornar essa falta de investimentos e melhorar a segurança com os poucos recursos que a PM dispõe?

Já me fizeram essa pergunta antes: esse efetivo que o senhor tem dá para fazer o que o senhor quer? Quero dizer que não estou preocupado com o contingente, mas sim com a qualidade. Por onde passei procurei transmitir aos nossos policiais que eles devem se dedicar ao máximo a nossa corporação, no sentindo de transmitir uma sensação de segurança para o povo.

Quero passar esse sentimento aqui em Teresina. Se você fez um concurso, um juramento para servir essa população, então quero contar com esses homens e mulheres que tem compromisso com a segurança pública. Não adianta termos 10 mil homens sem compromisso, mas se eu tiver cinco mil com compromisso, aí funciona.

G1 - Coronel, em outras entrevistas o senhor tem dito que segue uma linha dura. O que isso quer dizer?
Olha, eu nunca disse isso. Verdade que já publicaram isso, mas eu nunca falei algo assim. Disseram também que sou um homem do coronel Prado (Francisco Prado, ex-comandante da PM do Piauí), mas também não disse isso. Eu sou um oficial que trabalho na legalidade e sempre passo para os meus policiais que eles devem tratar as pessoas como gostariam de ser tratados. E todo mundo que ser tratado bem.

Agora, eu não fecho os olhos para nenhum tipo de ilegalidade, ninguém está acima da lei. Então, o cidadão que cometer algum tipo de delito, ilicitude, vai responder por isso. Essa é nossa orientação. Essa história (de ser linha dura) talvez seja por essa forma de trabalhar, pela determinação, pela vontade e disposição. Mas da minha boca, eu nunca disse que sou linha dura.