"É como se tivesse morrido", diz mãe de jovem vÃtima de bala perdida no PI
04/03/2016 08h45Fonte G1 PI
Imagem: Wenner Tito/G1Eliene Costa, mãe de Patrícia, vítima de bala perdida.
A lavradora Eliene Costa, 41 anos, disse para a filha esperar em uma lanchonete enquanto ia imprimir um documento em uma lan house. Não podia imaginar o quanto sua vida estava prestes a mudar. Ao voltar, se deparou com uma multidão de gente e, ao se aproximar, viu a filha Patrícia no chão, morta após ser atingida por bala perdida na porta da escola.
A mãe entrou em desespero, começou a correr sem direção e foi atingida por um carro. Não sofreu grandes danos físicos, mas os emocionais permaneceriam. Patrícia adorava crianças, gostava de ler e sonhava em estudar medicina, mas a sua trajetória acabava ali, com uma bala que não era destinada à ela.
Era 11 de dezembro de 2015, que tinha começado como um dia qualquer. Dona Eliene havia deixado a casa, em um povoado na zona rural de Teresina, e saído para fazer um trabalho como doméstica, enquanto Patrícia ficou dormindo. Mais tarde iria cuidar dos afazeres da casa, mas a mãe, que não sabe dirigir, pediu para a filha buscá-la no trabalho, pois não estava se sentindo bem.
Do trabalho da mãe, as duas foram ao Centro de Teresina, onde Patrícia tinha que pegar a sua primeira carteira de trabalho.
A jovem de 18 anos, estudante do 3º ano do ensino médio, havia acabado de terminar um curso técnico de vendas e iria começar a distribuir currículos para ter o primeiro emprego fixo. Até então, trabalhava como babá de uma criança nos fins de semana.
Enquanto a mãe ia para a lan house, Patrícia ficou lanchando na porta de um estabelecimento comercial que ficava em frente à escola onde havia estudado até um ano antes. Três homens divididos em duas motos abordaram um jovem para roubar o celular. O rapaz tentou correr e um dos assaltantes disparou, mas o tiro atingiu Patrícia, totalmente alheia à situação.
A polícia investiga o caso como bala perdida. A mãe, inconformada com a perda precoce da filha, tenta enxergar algum sentido no que aconteceu. “Eu não consigo entender. Porque isso tinha que acontecer justo com a Patrícia, justo ela? Era tudo para mim”, diz Eliene, ainda abalada dois meses após o ocorrido.
A perda de dona Eliene é mais uma peça no drama que foi 2015 para ela. Mãe solteira, criou os três filhos sozinha e viu o seu mais velho ser preso meses antes, acusado de latrocínio. Ela acredita que armaram para incriminar o filho. Na ausência dele, Patrícia era o principal auxílio em casa. “Era uma menina maravilhosa, me ajudava em tudo. Tudo que ela fazia, todo dinheiro que ela ganhava, era para pagar as contas dentro de casa. Quando me espantava ela não tinha um centavo”, conta.
A vida humilde, sustentada com os resultados da lavoura, os bicos como doméstica e o auxílio de programas sociais do governo, exigia economia. Patrícia havia largado a escola no Centro de Teresina para estudar na comunidade, assim não seria preciso gastar com passagens de ônibus. Queria fazer outro curso técnico, para poder ter um emprego que lhe garantisse um sustento até poder realizar outro sonho: estudar medicina.
Sem Patrícia em casa, a vida de Eliene mudou. Não faz mais bicos fora de casa e tem medo de deixar a filha mais nova sair sozinha. “Piorou tudo, é como se eu tivesse morrido junto com ela. Não consigo dormir direito, tem dia que não boto um copo de água na boca, é muito difícil”, diz ela.
O delegado Robert Lavor, da Delegacia de Homicídios, responsável pelo inquérito, disse que até o momento as investigações seguem e correm em sigilo. Ninguém ainda foi preso.
Procurada pelo G1, a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Piauí disse que não monitora os casos de bala perdida no estado. Em nota, ela esclareceu que são acompanhados apenas os crimes violentos letais intencionais como homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e estupro seguido de morte.