Policiais são suspeitos de roubar armas e drogas de traficantes e vazar dados de operações
29/11/2019 14h38Fonte G1 PI
Imagem: Nayara Nadja/TV ClubeComandante do 8º BPM, major Wilton Sousa e delegado Odilo Sena, titular do 21º DP.
Os dois cabos da Polícia Militar presos na manhã desta sexta-feira (29) em Teresina, que não tiveram seus nomes informados, são suspeitos de roubar armas, bens e drogas de traficantes durante o exercício do trabalho de policiais. O delegado Odilo Sena, que comandou a Operação Guerra ao Tráfico, responsável pelas prisões, disse ainda que os dois teriam prejudicado ações policiais vazando informações privilegiadas a bandidos.
Segundo o delegado, durante coletiva de imprensa na sede da Delegacia Geral de Polícia Civil do Piauí, a investigação sobre o caso foi longa, teve início no começo de 2019, e o alerta aconteceu após relatos de usuários de drogas que diziam ser coagidos por policiais a entregar celulares roubados de cidadãos da região.
“Pessoas viciadas estavam contando sobre policiais militares e civis envolvidos no recebimento de propina e praticando extorsão. Eles agiam sempre com o mesmo padrão. As vítimas, cidadãos comuns, eram roubados, e eles [policiais] iam às vezes até a boca de fumo, e o que era roubado das pessoas, como celulares, os policiais ficavam e não prestavam contas. Eles também costumeiramente ficavam com entorpecentes”, relatou Odilo Sena.
Ele explicou que os criminosos não atuavam exatamente como “parceiros”, mas eram coagidos a fazer a entrega do material ou às vezes o pagamento de valores, que iam de R$ 50 a R$ 500, para que não fossem presos ou para que pudessem ter as armas e as drogas, apreendidas, de volta.
“E os criminosos ou pagavam ou eram presos e armas às vezes voltavam para o tráfico”, explicou o delegado.
Vazamento de informações privilegiadas
O delegado Odilo Sena e o comandante do 8º Batalhão da PM, major Wilton Sousa, onde os policiais presos eram lotados, relaram que as operações eram constantemente prejudicadas por conta do vazamento de informações de dentro da polícia.
“Além da dificuldade natural em realizar operações policiais, ainda tínhamos esse problema. As operações eram falhadas porque tinham informações privilegiadas vazadas”, relatou o delegado.
Bandidos sabiam de "quadro de anotações"
Segundo o major Wilton, um exemplo claro de vazamento de informações foi o relato de um preso a respeito de um quadro de anotações adquirido por ele, para organizar as ações do Batalhão.
"O delegado me disse que ouviu falar que eu tinha comprado um quadro para anotações diárias das ações. O delegado me perguntou se eu tinha, porque soube disso em um local de tráfico. Isso serve para ver como as informações saíam do meu gabinete", disse o major.
O delegado confirmou a informação. "Soube de um traficante que prendemos. Algumas operações que faríamos e estava agendada para uma quinta-feira, por exemplo, não pegávamos nem ‘vento’, porque todos eram avisados", descreveu.
Risco e constrangimento
O major disse que além do prejuízo ao trabalho da polícia para a sociedade, trabalhar com um policial que pratica crimes é um risco ao profissional honesto.
"Para nós é um constrangimento dividir uma viatura policial militar, onde se precisa de apoio, precisa somar e multiplicar, e sabermos que estamos com alguém que não é da nossa confiança é muito constrangedor para quem trabalha diante da lei, para a sociedade. É um risco, porque estamos sempre em dupla, trio, para enfrentar criminosos com alguém que não confiamos", descreveu.
Investigações continuam
O delegado informou que há ainda três policiais civis sob investigação, por suspeita de participação no esquema. Segundo ele, os dois policiais devem ser indiciados por peculato, tráfico de drogas, associação para o tráfico, roubo majorado e extorsão.
O caso já foi enviado à Corregedoria da Polícia Militar, para apuração na esfera administrativa. Os dois policiais eram lotados no 8º Batalhão da Polícia Militar. Essa é a 7°fase da operação, que tem como objetivo combater o tráfico de entorpecentes na capital piauiense.